O que Elza Soares e Warren Buffett me Ensinaram sobre Arte e Empreendedorismo.
Me lembro bem de ver Elza entrar no palco do Teatro Municipal. Naquela altura ela estava com 79 anos.
Quando eu fui convidado para fazer a direção daquele e de outros shows que aconteceram durante a Virada Cultural de São Paulo, não fazia ideia da sorte que teria.
Elza Soares entrou em uma cadeira de rodas, acompanhada por uma assistente. Rindo. Dizendo que a voz não estava tão boa. E todo mundo ao redor sabendo que não haveria voz melhor.
Eu estava correndo, como sempre. Na pressão dos momentos que antecedem um grande acontecimento, tentando manter alguma ordem no lugar, checando listas de equipamentos para ver se tudo estava como mandava o manual, conferindo a luz, o som, o relógio.
Quando contei "3, 2, 1" a estrela entrou no palco. Eu estava um caco, mas aqueles momentos especiais faziam tudo valer a pena. Será que era também assim para a artista? Será que durante quase 80 anos ela passou dias de stress para ter momentos de plenitude no palco?
Elza cantou pelos palcos do mundo por mais dez anos após o nosso encontro. Teria continuado, não fosse essa coisa mundana da vida, a morte do corpo.
Enquanto ela trabalhava cantando dos 79 aos 89 anos, eu dos 24 aos 34 anos segui fazendo eventos. Acabei vendo uma grande quantidade de profissionais aos 50, 60, no máximo 70 anos de despedirem das suas carreiras.
Quem passa uma vida profissional dedicada não ao seu próprio sonho, mas aos planos de outra pessoa, geralmente aguarda ansiosamente a última vez de ir para o trabalho.
Uma vida profissional que está conectada ao ser, não tem fim.
Isso é o que também podemos aprender com Milton Nascimento que fez seu último show aos 80 anos, com Caetano Veloso que está com 80 e continua trabalhando, e também com Warren Buffett com 92 anos, firme e forte na labuta dos investimentos (espero que não seja uma blasfêmia colocar Caetano e Milton no mesmo parágrafo de Buffett).
Arte e empreendedorismo se encontram também sob essa ótica do trabalho que não queremos que tenha fim. Considero o ato de empreender da mesma magnitude do ato de produzir arte. Vemos muitas pessoas esperando o dia da aposentadoria. Nunca veremos um artista verdadeiro, um empreendedor verdadeiro nessa condição.
Encontrei Elza presencialmente. Warren Buffet encontro corriqueiramente em livros. Ao encontrar quem não tem dia para ter fim, também me encontro.
Espero que nos vejamos na eternidade.